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A HISTÓRIA NÃO CONTADA DO BRASIL


Por Manoel Onofre Jr.

Político experiente, Álvaro da Costa Dias, atual Prefeito de Natal, ingressa, surpreendentemente, no mundo da historiografia com um livro instigante, em que busca relatar o avesso da História Oficial do Brasil, isto é, aquilo que foi omitido ou distorcido pelos historiadores convencionais. “A Guerra dos Tamoios e a História não Contada do Brasil” (Natal: Escribas, 2023) tenta des(mi/mis)tificar a velha máxima de que a História é sempre contada pelos vencedores. Álvaro Dias toma o partido dos vencidos que, no caso em estudo, são os índios escravizados no período colonial, e relegados injustamente aos porões da História pela maioria dos estudiosos.

Na Introdução ao livro, ou, mais precisamente, no último parágrafo desta, o autor diz de maneira sucinta a que se propõe a obra. Vejamos, textualmente:

“Sabemos que nossa história deveria conter uma quantidade imensa de sofrimentos e desditas, de injustiças e crueldades, que foram perpetradas e existiram ao longo do tempo, durante toda a colonização, mas os livros e compêndios, muitas vezes manipulados ou censurados, negaram-se a relatar esses episódios e foram omissos com relação a inúmeros fatos relevantes, sem os quais não podemos chegar a uma análise isenta, imparcial, nem entender porque hoje as coisas são dessa forma.” (p. 22).

Entre parênteses, vale dizer que a referida Introdução poderia ter sido “enxugada” de modo a tornar-se menos redundante.

Após tecer, em vários capítulos, contundentes críticas à colonização do Brasil por Portugal (leia-se “exploração” ao invés de “colonização”), o autor passa a tratar de fatos históricos referentes aos indígenas, donos da terra “descoberta” por Cabral. Indignado com os suplícios a que estes foram submetidos, o autor afirma:

“Fatos como esses tornam a escravidão indígena um dos episódios mais vergonhosos de nossa história e ainda mais inexplicável a negligência da historiografia oficial em narrar o que se passou realmente.” (p. 109).

Seguem-se vários capítulos, cujos títulos dizem muito: A ESCRAVIDÃO INDÍGENA OCORREU CEDO NO BRASIL; ENTRADAS E BANDEIRAS: A VERDADE SOBRE OS BANDEIRANTES E SUAS AÇÕES; CHEGAM OS JESUÍTAS: CRIAM ALDEAMENTOS E MISSÕES PARA COMBATER A ESCRAVIDÃO E OS MAUS-TRATOS; CONFLITOS, REVOLTAS NATIVAS E GUERRAS COLONIAIS (em que se reporta à Guerra do Açu, no interior da Capitania do Rio Grande, hoje Estado do Rio Grande do Norte).

Além destes capítulos, três outros tratam da Confederação ou Guerra dos Tamoios, foco principal. Tudo relatado com base em farta e confiável bibliografia. Darcy Ribeiro, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Heinrich Handelman, Paulo Prado e outros cientistas sociais, intérpretes do Brasil, dão o devido aval ao que o autor argumenta e expõe. A linguagem adotada, muito simples, acessível, há de despertar o interesse pela leitura não só por parte de estudantes e professores, mas também por todo e qualquer leitor que se ligue na História do Brasil.

Em suma, “A Guerra dos Tamoios e a história não contada do Brasil” é uma obra que, embora não venha revolucionar a historiografia brasileira, tem inegável importância, além do seu valor intrínseco, por se inserir na causa dos índios de tanta atualidade e, também, obviamente, por se alinhar de certa maneira na luta pelos direitos humanos. Vale a pena conferir.


MANOEL ONOFRE JR. é Desembargador aposentado, pesquisador e escritor. Autor de “Chão dos Simples”, “Ficcionistas Potiguares”, “Contistas Potiguares” e outros livros. Ocupa a cadeira nº 5 da Academia Norte-rio-grandense de Letras.


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