Pular para o conteúdo principal

O MASSACRE QUE O BRASIL NÃO VIU: COMUNIDADE NORDESTINA ACUSADA DE "SUBVERSÃO COMUNISTA" FOI DIZIMADA PELO EXÉRCITO BRASILEIRO




Sobreviventes do Massacre do Sítio do Caldeirão, em Crato, Ceará, são cercados por militares. Há 86 anos, em 11 de maio de 1937, a comunidade nordestina, acusada de "subversão comunista", foi dizimada por fuzilamentos e bombardeios controlados pelo Exército Brasileiro.

Desde 1926, a Fazenda de Santa Cruz do Caldeirão, localizada na área rural do Crato, abrigava uma comunidade de romeiros, flagelados da seca e camponeses. O líder da comunidade era um beato chamado José Lourenço, protegido do Padre Cícero. 

O próprio sacerdote intermediou a concessão da fazenda, visando proteger os trabalhadores expulsos de uma propriedade vizinha que fora vendida. Padre Cícero passou a enviar aos cuidados do beato Lourenço retirantes que buscavam suas bênçãos em Juazeiro do Norte.

Sob a liderança de José Lourenço, a fazenda funcionava como uma sociedade comunal, sustentada pela cooperação mútua e repartição igualitária da produção. Os moradores produziriam quase tudo que necessitavam.

Plantavam frutas, cereais e verduras, fabricavam machados, enxadas, foices, roupas e panelas. Os frutos do trabalho eram divididos conforme as necessidades de cada um e a produção excedente era comercializada com as comunidades externas.

O dinheiro proveniente das vendas era empregado na compra de remédios, querosene e insumos. Cada família tinha sua própria casa e os órfãos eram criados como afilhados do beato.

A fazenda também contava com sua própria igreja e um cemitério, igualmente construída pelos moradores. A notícia de que existia um "paraíso dos pobres" nos arredores do Crato, onde havia água, comida e abrigo assegurados para todos, começou a se difundir pela região.

Fazenda Caldeirão atualmente

Durante a grande seca de 1932, a fazenda recebeu uma enorme leva de retirantes, o que fez prender sua população. Em seu ápice, a comunidade chegou a abrigar mais de 2.000 pessoas.

Testemunhando casos de trabalhadores que abandonaram suas ocupações para ir morar no Caldeirão, os fazendeiros eram a se queixar. A comunidade passou a ser vista como estímulo pela elite do Crato e como uma ameaça ao modelo de exploração dos camponeses nos latifúndios. 

José Lourenço passou a ser vilanizado pela imprensa como um perigoso líder comunista que poderia articular uma rebelião e atentar contra a ordem pública. Assim, em setembro de 1936, os policiais militares invadiram o povoado atrás do beato. José Lourenço conseguiu evitar os presos, escondendo-se nas matas da Serra do Araripe. A polícia incendiou as casas, saqueou os bens e expulsou os moradores do local. 

Os moradores, entretanto, retornaram para a fazenda aos poucos e recuperaram a comunidade. Algumas semanas depois, o governo cearense invejou um novo grupo de onze aguardados pelo capitão José Bezerra para espionar a comunidade e procurar pelo beato. 



Quando os presos foram descobertos, entraram em confronto com os camponeses. O tumulto culminou na morte do capitão, 3 praças e 5 moradores da fazenda. A morte dos soldados serviu de estopim para a repressão. A imprensa passou a publicar barcos de que "fanáticos" planejavam "invadir a cidade do Crato para destruir e matar todos os moradores".

O governador do Ceará, Francisco de Menezes Pimentel, contatou Getúlio Vargas, afirmando que a cidade abrigava um núcleo de "subversão comunista". Vargas incumbiu seu Ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra, de coordenar uma operação para neutralizar a ameaça.


Na madrugada de 11 de maio de 1937, 200 soldados do Exército Brasileiro munidos de fuzis e metralhadoras atacaram a comunidade, massacrando os moradores. Dois aviões também sobrevoaram a fazenda lançando bombas. 

Os moradores que não morreram nos fuzilamentos e bombardeios foram caçados e degolados pelos soldados e por jagunços emprestados pelos coronéis da região. José Lourenço sobreviveu ao massacre e conseguiu fugir para Pernambuco, onde morreu alguns anos depois.

Relatos do governo cearense apontam que 400 pessoas foram assassinadas no massacre, mas outras perspectivas apontam mais de mil mortes. Os corpos nunca foram localizados, mas acreditam-se que foram enterrados em uma vala comum na região da Serra do Cruzeiro. 



O Exército Brasileiro não guardou registros da operação e até hoje nega que o massacre tenha ocorrido. Em 2008, a ONG SOS Direitos Humanos entrou com uma ação civil pública contra o governo do Ceará e o Exército Brasileiro, solicitando que as autoridades revelassem o local da vala comum e procedessem à exumação dos corpos e à indenização dos familiares dos mortos e dos sobreviventes remanescentes , além de incluir o massacre na história oficial.

A ação, entretanto, foi extinta sem julgamento de mérito pela 16ª Vara Federal de Juazeiro do Norte.

Fontes e leituras complementares:
"A destruição da terra sem machos: o conflito religioso do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto". Artigo de Antônio Máspoli de Araújo Gomes na Revista USP:

"Sítio do Caldeirão, no CE, é massacrado". Memorial da Democracia:

"Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, o massacre que o Brasil não viu".
https://catracalivre.com.br/cidadania/caldeirao-de-santa-cruz-do-deserto-o-massacre-que-o-brasil-nao-viu/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

POLÍCIA PRENDE TRÊS EM OPERAÇÃO DE COMBATE AO TRÁFICO NO SERIDÓ

Nas primeiras horas desta quarta-feira, 22, Policiais Civis de todas as equipes componentes da 3DRP deflagraram operação policial nas cidades de Florânia e Tenente Laurentino visando coibir o tráfico de drogas e apreender armas de fogo.  Ao todo, foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão, resultando em três flagrantes por porte e posse irregular de arma de fogo e dois TCOs por crime ambiental. Tiago (camisa vermelha) já foi preso por participar de uma tripla tentativa de homicídio e é também apontado como envolvido em um homicídio ocorrido no mês de maio, na cidade de Florania.  Foram presos: JOSÉ DA SILVA MACEDO, 50 anos, conhecido como ZEZINHO DO BAR; TIAGO CRISTIAN SANTOS MACEDO, 21 anos; e PAULO MAURO DA SILVA, 29 anos, vulgo Paulinho. Com eles foram apreendidos dois revólveres calibre 38, 12 munições intactas e duas espingardas artesanais. A operação contou com a participação de 30 policiais civis e uma guarnição da Polícia Militar da cidade de Tenente Laurentin...

DERROTA PARA EZEQUIEL

  Caso se confirme a derrota do Governo na Assembleia Legislativa do RN, sobre a manutenção do aumento na alíquota do ICMS em 20%,  outro grande derrotado será o atual presidente do legislativo,  deputado Ezequiel Ferreira (PSDB). Nos bastidores há uma grande  insatisfação por parte de deputados com o presidente.

FOTOS DE FILHA DE RENATO GAÚCHO NUA VAZAM NAS REDES SOCIAIS.

Vazou uma suposta foto nua de Carol Portaluppi na internet na madrugada desta segunda-feira (09). A filha de Renato Gaúcho aparece completamente nua no clique, que seria de setembro.  Na foto, Carol Portaluppi exibe os pontos da cirurgia que fez para colocar silicone nos seios, há três meses. Portaluppi está segurando apenas uma caneca no clique, que está circulando pelas redes sociais. A filha de Renato Gaúcho colocou silicone nos seios em setembro e ficou um mês sem malhar para se recuperar totalmente após a cirurgia.  Na época, Portaluppi falou sobre sua cirurgia. ‘Era algo que estava me incomodando. Esperei o momento certo e fiz a cirurgia. Ficou bem natural’, disse. As imagens que estão circulando na web estariam armazenadas em um aparelho celular a moça, que teria sido roubado. As informações de bastidores é de que a jovem está bastante abalada com a divulgação da imagem. As imagens já estão disponíveis em milhares de sites nacionais. Confira   AQUI...