Por Ricardo Corrêa
A declaração do presidente Jair Bolsonaro (PL) de que não pretende comparecer a debates no primeiro turno das eleições de 2022 para não levar pancada, aliada às já reiteradas observações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que deveria haver apenas dois ou três encontros compartilhados por vários veículos indica uma eleição sem debate.
A ausência dos dois em encontros de candidatos representa muito bem o que vemos até aqui na corrida eleitoral, polarizada em torno das personalidades dos dois líderes das pesquisas e sem uma real discussão sobre o momento vivido pelo país.
Em geral, eleições no Brasil têm pouca proposta e muita discussão. Essa, porém, apresenta esse quadro ampliado. Não apenas não se discutem as ideias que podem tirar o Brasil da atual situação difícil, como qualquer crítica ou reparo à atuação dos dois líderes nas pesquisas gera reação radical e grosseira nas redes ou em qualquer local que o faça. Assim tem sido também, aos poucos, com Ciro Gomes, terceiro colocado, que já cultiva uma militância igualmente feroz na defesa de seu candidato.
Sobre Ciro, aliás, já disse aqui que foi o primeiro a apresentar de fato um projeto de país. Cada vez mais, porém, suas ideias de Brasil perdem o espaço para um debate e ataques mais rasos às personalidades dos dois líderes das pesquisas. Também a terceira via pensa em nomes primeiro e em projetos depois. Simone Tebet até trabalha agora em seu plano de governo, mas a união dos partidos de centro se deu apenas em torno de um debate sobre qual era o candidato mais rejeitado. Ideias de país ficaram em segundo plano.
Sobre os debates em si, sempre foi bem óbvio que Bolsonaro morre de medo deles. Em 2018, sob o argumento de que ainda se recuperava do atentado que quase tirou sua vida em Juiz de Fora, o atual presidente não compareceu a nenhum encontro no segundo turno. E é evidente que não o fez por estar em primeiro e não querer correr riscos àquela altura. Lula, por sua vez, embora diga que gostaria de participar, cria uma exigência que sabe que ninguém vai cumprir. Assim, desiste de debates atribuindo o problema aos veículos de comunicação. Líder das pesquisas, tal qual Bolsonaro em 2018, ele não quer correr o risco de ajudar ninguém a crescer em cima dele.
Essa ausência em debates dos dois primeiros colocados só é possível pois ambos estão satisfeitos com a disputa atualmente polarizada. Eles não querem que ninguém mais participe dessa batalha. E, além disso, sabem que suas militâncias estão tão envolvidas nessa polarização e tiveram tanto sucesso em sufocar qualquer debate fora disso que não ir aos encontros não gerará qualquer consequência. Pouca gente vai questionar suas ausências pois o que está em jogo é apenas um plebiscito entre o governo de Lula e o de Bolsonaro e, mais que isso, uma batalha de rejeições. Ninguém se importa com que os dois têm de ideias para uma próxima gestão. As pessoas, cada um de seu lado, só querem saber como fazer para impedir que um deles chegue à presidência.
*Ricardo Corrêa é Editor de Política de O TEMPO.
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