Por Bruno Barreto*
Existe um tipo por aí sempre bem vestido, educado, fala mansa e geralmente de família “tradicional”. É um sujeito como se chamava antigamente de “bem-nascido”.
Por trás desse perfil polido esconde os piores sentimentos e preconceitos contra pobres, mulheres, pretos e LGBTs. Diria que é a versão Século XXI do homem cordial, perfil conceituado pelo sociólogo Sérgio Buarque de Holanda que o descrevia como o sujeito amigável e bondoso que agia pela emoção e muitas vezes agiria de maneira violenta.
Essa discussão por anos atormentou o pai de Chico Buarque que sempre tinha que se explicar sobre o conceito em seus textos, mas isso é tema para outra discussão.
A violência homem cordial do século XXI se dá por trás de uma fachada de racionalidade no estilo cortar direitos dos mais pobres, enquadrar minorias denunciando o “identitariíssimo” e outras sacadas que pegam os mais desatentos tornando o preconceito camuflado.
Para esse gente pobre é pobre porque não se esforçou e mulher tem que ser “feminina”.
O homem cordial se encaixa na “maldade de gente boa” do refrão da música “Deus me proteja” de Chico César. Adota um verniz de defesa das liberdades para justificar violências contra gente que não gosta, mas quando contraditado se faz de vítima e reivindica para si a condição de pessoa polida e educada.
É o “gente boa” que paga propina ao guarda de trânsito para escapar da lei seca, mas vai para as redes sociais bradar contra a corrupção (só a do PT, de preferência) e defender cortes de gastos no setor público, que geralmente prejudicam os mais pobres.
O homem cordial do Século XXI enxerga similaridade em um cidadão inocente morto após tortura numa câmara de gás improvisada por policiais rodoviários e a fatalidade de um criminoso matar dois policiais em um confronto.
É o sujeito que não percebe o racismo nosso de cada dia, que teme que o mínimo de direitos para mulheres e LGBTs vá subverter a ordem da família tradicional. É o pastor que mantém uma mulher em regime de escravidão por décadas.
Ele defender os piores absurdos em nome de Deus e das crianças inocentes. É quem acredita que pode resolver tudo com a bíblia numa mão e uma pistola na outra.
O Brasil foi formado por “homens cordiais” cuja fachada bondosa sempre escondeu um espírito violento em ideias e atitudes. Assim os absurdos são minimizados e a luta por direitos desqualificada sempre com fala mansa e provocações “educadas”.
Que você se proteja da maldade de gente boa, nem todos escapam. Resta pedir a Deus, para quem nele crê.
*É jornalista, mestre em ciências sociais e humanas, servidor da UERN e editor do Blog do Barreto. De segunda à sexta comenta política no Foro de Moscow.
Para finalizar deixo o som de Chico César para este domingo.
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