Por François Silvestre
Aqui preservo o Circo, retirando apenas o sentido metafórico da farsa. A Democracia brasileira não está no campo do humor, mas na seara da empulhação. Com intervalos de ditaduras sangrentas e “deus ex machina” de “salvadores”.
Nossa democracia nunca foi um modelo a ser copiado por qualquer outro país. A República nasceu de um golpe, consolidado numa madrugada do dia 16 de Novembro e não no dia 15 de 1889.
Um imperador ancião, uma filha herdeira e um genro estrangeiro. Só isso? Não. Foi preciso um chifre para garantir aos republicanos a assinatura do Decreto que derrubou o Império.
Deodoro da Fonseca era amigo e aliado leal do Imperador. Ele queria apenas derrubar o Gabinete do Visconde de Ouro Preto, seu desafeto recente. O Visconde não era um habilidoso político; pelo contrário, tinha na arrogância sua marca mais acentuada.
Mesmo assim, Deodoro não levou a sério a informação de que Ouro Preto queria prendê-lo. Por duas razões. Ouro Preto não tinha força militar e o Gabinete já entregara sua renúncia, quando D. Pedro desceu de Petrópolis.
Na movimentação do dia 15, Deodoro, ao marchar para o Campo de Santana, não proclamou a República. Levantou o quepe e gritou uma saudação ao Imperador. Foi aí que o Cel. Benjamim Constant mandou disparar os canhões e o barulho abafou a saudação do Marechal.
Na madrugada do dia 16, Benjamim Constant e seus auxiliares mostraram a Deodoro uma publicação falsa que informava já ter o Imperador nomeado o novo Chefe do Gabinete. Quem? Gaspar da Silveira Martins. O mesmo que dá nome à Rua que passa pelo oitão direito do Palácio do Catete.
Foi essa informação “montada” que fez Deodoro assinar o Decreto de Proclamação da República e assumir, como Ditador, o novo governo, com o banimento da Família Real.
Quando servira em Porto Alegre, o jovem oficial Deodoro da Fonseca apaixonou-se perdidamente por uma bela gaúcha, com quem iniciou um namoro e pretendia casar-se. A união frustrou-se porque a jovem preferiu os encantos do conterrâneo Gaspar da Silveira Martins.
De Ouro Preto, Deodoro era desafeto. De Silveira Martins, era inimigo figadal. E Benjamim Constant sabia disso.
O curioso é que foi de uma praça de táxi, da Rua Silveira Martins, que saiu o carro usado para o atentado da Rua Toneleros, que feriu Carlos Lacerda e matou o Major Vaz, em 1954. E os investigadores do Galeão usaram do mesmo artifício, ao mostrarem uma reportagem falsa, de um jornal do Rio, a Gregório Fortunato, que imaginando ser verídica, confessou o crime.
E por falar em Palácio do Catete, foi um vice-presidente, Manuel Vitorino, quem fez a mudança da sede do governo federal, do Palácio Itamaraty, para o Catete. E foi aí que Prudente de Moraes, convalescente, percebeu que Vitorino não queria devolver a presidência ao titular.
Informou-se da hora de chegada do presidente em exercício ao novo Palácio e antecipou-se. Quando Manuel Vitorino chegou para o expediente, encontrou Prudente de Moraes sentado na cadeira que ele queria usurpar.
“Reassumi a Presidência”, disse lacônico o presidente titular. Foi o único golpe, na república nascida do chifre, evitado por um traseiro posto na cadeira.
Neste 2018 basta ver a propaganda eleitoral “gratuita” e o nível dos candidatos, em todos as postulações, com escassas exceções, para concluirmos que o riso continua a ser o herói da nossa democracia de ópera bufa. Mesmo assim é melhor que seja assim; e no picadeiro, por trás da máscara enfeitada, uma lágrima do povo desce do olhar de pouco alcance e escorre lavando a tintura no rosto do palhaço. Té mais.
François Silvestre é escritor
Via Blog de Carlos Santos
Comentários
Postar um comentário